terça-feira, 19 de março de 2013

Muros, Música e Manifestação

A vida não é algo estático, quando se pensa que já se viu de tudo e que nada mais o surpreende, aparece alguma coisa completamente nova e te faz pensar se realmente nós podemos saber o que precisamos.

Pois bem, estes momentos estão sempre presentes em minha vida, quando eu menos espero, seja na rua, na escola, em sua casa, faculdade, em shows ou até em meus sonhos.
Já fui em 3 ou 4 shows, todos incríveis, mas nenhum me impressionou mais que o show do músico Roger Waters (ex-integrante da banda Pink Floyd) recriando um dos maiores shows teatrais da história (O The Wall, realizado inicialmente em 1980), um show que representa o que aconteceu durante e depois a Segunda Guerra Mundial, a onda consumista que se instalou nos EUA e no resto do mundo, mostrando que somos todos "Tijolos do Muro" (analogia ao Muro de Berlim), seres completamente iguais e fechados no nosso próprio mundo.
O show contou com um grande muro feito de tijolos com projetores, que iam alterando a imagem conforme a música, e eram o grande atrativo do evento.
Resposta à pergunta "Mãe, eu devo confiar no governo?" na música "Mother"
Quando o show começou, Roger Waters entra com um sobretudo preto de couro, imitando um membro do partido nazista, ao som da música "In The Flesh", ao começo da música, pensei que seria como os outros shows em que eu fui, nos quais eu cantei e pulei até ficar rouco e sem forças no dia seguinte, mas então, os tijolos começaram a ilustrar a música, com soldados correndo e atirando, até chegar ao fim da música, e quando esta foi se acabando, um avião preso a uma roldana despenca, atingindo o muro e o despedaçando, fiquei surpreso ao ver aquilo, pois era inesperado, ao começar a segunda música, o show foi avançando e as músicas passando, e eu estava boquiaberto com a qualidade musical e visual da apresentação, pois nunca havia visto algo tão bem planejado e ensaiado acontecer diante dos meus olhos.
A primeira parte do show foi exatamente o primeiro CD do álbum homônimo ao nome da turnê, esta parte trata da infância do personagem "Pink", um artista que se afunda em drogas e depressão, ao fechar o primeiro CD, há uma pausa de aproximadamente 30 minutos, nessa pausa, o muro já estava remontado da queda do avião, e nele estavam projetados fotos de pessoas desaparecidas durante a Guerra do Iraque, enviadas pelos familiares, estava explícito que o propósito daquele show, não era apenas nos impressionar com a estética, mas também fazer com que reflitamos sobre o que estamos fazendo com a nossa sociedade, que havia sido feita para reunir semelhantes e sobreviver, mas atualmente excluímos aqueles diferentes e ignoramos problemas que estão bem à nossa frente.
Quando o show retornou, tocaram a lista do segundo CD, que retrata a decadência do personagem "Pink", começando com "Hey You" (Ei Você) , descrevendo alguém que esteja "fora do muro, morrendo e congelando", como se fosse os que excluíssemos, sua continuação é dada por "Is There Anybody Out There?" (Há alguém aí fora?), onde o retrato da depressão realmente começou, uma música com apenas uma frase, "is there anybody out there?" e um teclado de suspense, nos muros estava projetado um corredor cercado por paredes de tijolos, quando em um dado momento, um ser totalmente pálido de cabelos finos passa correndo arranhando as paredes e soltando um grito de desespero, pude sentir o mesmo que ele no exato momento.
Mais para frente, a equipe do show lança um Porco Inflável suspenso acima da platéia, cheio de pichações como "Muita Fé, Pouca Luta", "Confie em Nós", um símbolo com dois martelos cruzados, parodiando a suástica Nazista, entre outros, realmente tudo naquele show fez eu repensar o que eu sabia sobre tudo, e cheguei à conclusão clássica: "Só sei que nada sei."
O Porco inflável

Eduardo Perego Cavalcante

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